A minha crescida

Está cada vez mais autónoma. Já toma banho sozinha, limpa-se e veste-se. E, quando queremos ajudar, não deixa. Diz que já tem carro eu é que nunca o vi, que pode ir sozinha onde quer. Resmunga sempre para me dar a mão na rua, acha que já não precisa. 

Continua a precisar e, neste caso a pedir, ajuda para comer. Se lhe der massa ou sopa de canja (como ela lhe chama) não há problema, mas normalmente tenho sempre que lhe dar uma ajudinha no fim da refeição. Definitivamente, comer não é com ela. Bem, se for para comer chocolates e gulodices não se atrapalha nem demora horas. 

É uma criança alegre e meiga. Adora os nossos mimos. Fala que se farta. É mesmo tagarela, tem resposta para tudo, quer saber tudo. Tem dias que cansa.

O seu lado lunar é lixado. Teimosa como nunca vi. Estica, estica e estica a corda a toda a hora. Não se demove com caras feias, castigos ou até uma palmada. A única coisa que tem resultado é não a deixar ver a navegante da lua, a grande paixão do momento. Anteontem foi um desses dias. Proibi-a de ver porque me tinha desobedecido. A certa altura ouço-a a falar sozinha: "Mas porque é que fui idiota? Porque fui chatear a mãe? Porquê?" Acho que é mesmo mais forte que ela.